Eh, meu irmão, que é que tens Que tremes como um chouriço? Eh, meu irmão que é que tens, Parece que vistes bicho! Um bicho vi, sim senhor, Enroscou-se a mim e pediu-me amor Tinha corpo de mulher Cabelo encaracolado Beijou-me, apagou as luzes E eu então gritei! Ai, um bicho! Eh, meu irmão, que é que tens Estás branco que nem um nabo! Eh, meu irmão que é que tens, Parece que vistes o diabo! Vi mesmo, bateu-me à porta Disse que o povo estava na rua E que a rua era do povo Que é p'ra quem ela foi feita E o povo somos nós todos E eu então gritei! Ai, o diabo! Eh, meu irmão, que é que tens Estás branco como o jasmim! Eh, meu irmão, que é que tens O que é que te pôs assim! Foi o medo da água fria O medo da vida, o medo da morte O medo da lua-cheia O medo da lua-nova O medo até de ter medo Que me faz gritar Ai, que medo! E assim com medo de tudo Perdeu meu irmão a vida E assim com medo de tudo Viveu-a e não foi vivida Meteram-no num caixão Às duas por três, num dia de Verão Desceram-no p'ra uma cova Deitaram terra por cima Espetaram-lhe uma cruz Ita missa est Amen.