ali está a cidade trémulos olhos da noite toda em cimento se ergue à tona dos desperdícios sob um arco luminoso como um monstro incandescente faz-se de bela deitada espapaçada na lama ali está a cidade rosto de sonos inquietos estremunhada nas sombras em contra luz rarefeita finge-se um anjo da guarda que se espreguiça felino por fora assenta o colosso em carne e osso por dentro mas sobretudo a cidade é um som toca uma música boa p’ra que eu me esqueça da alma ausente que se perdeu pelas ruas que eu não me perca também ali está a cidade... ali está a cidade mão de mil dedos acessos que acariciam diáfanos o corpo dos inocentes abre perversa o regaço à imagem de um paraíso e aconchegou-se mais bela e abandonei-me por ela